Quem nunca perguntou o porquê de não utilizar todo o terreno disponível para fazer inúmeras construções, garagens, áreas de lazer e torres adicionais? E o que isso pode influenciar diretamente na sua cidade ou na vida de seu vizinho, amigo ou parente?

Enchentes, infiltrações, colapso do solo, queda de muros de arrimo, alagamento de subsolos são problemas que podem ser controlados com uma série de especificações técnicas aliadas a diretrizes urbanas elaboradas em prol do bem coletivo nas cidades.

As grandes cidades possuem em seu Plano Diretor, uma série de especificações que devem ser atendidas de forma que o projeto seja aprovado na prefeitura. Um dos requisitos a serem atendidos na elaboração de um projeto de edifícios de múltiplos pavimentos, é a taxa de permeabilidade. A taxa de permeabilidade representa uma área mínima permeável que se deve ter dentro de um terreno, fazendo com que a água das chuvas infiltre diretamente no solo, aliviando o sistema de drenagem das ruas e avenidas e evitando enchentes. Nossos vizinhos com certeza agradecerão a preocupação!

Na elaboração da concepção do projeto estrutural, é importantíssimo respeitar os limites das construções determinadas pela arquitetura pois tanto a taxa de permeabilidade quanto o coeficiente de aproveitamento do terreno tendem a estar próximos do limite permitido. Um bom projeto estrutural é aquele que possui uma preocupação multidisciplinar e que atende e entende todos os projetos envolvidos para a elaboração do empreendimento, por isso é necessário conhecer soluções alternativas que contribuam com o produto final. Pode-se citar o a utilização do concreto permeável ou placas de drenagem como alternativas para solução desse problema.

Dentro do empreendimento, deve-se prever a impermeabilização de áreas não permeáveis expostas a intempéries e um sistema de captação de águas pluviais que escoe adequadamente a água sobre essas áreas. Para isso, também são calculados e previstos reservatórios de retenção que possuem a função de reter a água das chuvas para não sobrecarregar o sistema de escoamento de águas da cidade e gerar alagamentos. A impermeabilização dessas áreas é importante para evitar patologias na estrutura (como a carbonatação, corrosão de armaduras, fissuras, etc.) e diminuir a vida útil da mesma.

Em caso de chuvas fortes, destacam-se os subsolos que possuem acesso direto à rua. Quando os bueiros não conseguem dar vazão às aguas da chuva, seja por um problema de dimensionamento ou de entupimento, o sistema da rua é sobrecarregado de forma que a água pode descer diretamente pela rampa do subsolo se a mesma estiver acompanhando a calçada e não possuir um trecho de inclinação positiva. Nesse caso, a captação da grelha da rampa que desce ao subsolo será sobrecarregada e a água irá avançar para dentro da estrutura não impermeabilizada, podendo alagar outras áreas como a  escada e o poço de elevadores e gerar algumas patologias a médio-longo prazo. Imagine agora que você mora no 18º andar de um edifício e seu elevador ficará alguns dias interditado... não seria algo muito agradável.

A chuva também pode ser responsável por causar a queda de estruturas como muros de arrimo, quando esse não é estudado adequadamente. Os muros de arrimo precisam ser impermeabilizados e necessitam de um sistema de drenagem para minimizar os efeitos da pressão neutra, evitando o colapso do solo e o colapso da estrutura de arrimo. A não impermeabilização do muro de arrimo faz com que com o tempo, a água infiltre na estrutura podendo gerar patologias e diminuir o tempo de vida útil da estrutura.

Todos esses problemas podem ser evitados quando seguimos as recomendações das normas e estudamos adequadamente não só a estrutura mas o empreendimento como um todo. Os efeitos das águas sobre o empreendimento são importantes e devem ser sempre considerados.

Eng. Andre Vechiato Tamashiro